quinta-feira, 20 de outubro de 2011

fazendo hora extra

o suicida nasce morto, anencéfalo,
vivendo no tempo roubado ele oferece, tenta,
pagar sua dívida com seus pecados -
estancar a infecção na fonte para que
o veneno não espalhe.
coração de suicida bate constante o compasso,
um metrônomo, o alarme:
"tarde demais, tarde demais, tarde".
o suicida é estéril,
um passageiro atrasado que perde sua estação,
pernoita na estrada.

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

no lusco-fusco

toda noite de sítio,
densa e estranha,
eu perscrutava a escuridão,
o corpo teso feito um arco,
torto, firme,
pronto para disparar ao primeiro movimento,
esse meu corpo obsoleto
feito um arco.

debaixo do mundo, à postos,
esperando minhas ordens ou então,
uma revelação divina
que viesse daquele céu impossível,
um óvni,
o comandante-anjo de Alfa Centauri,
com seus três olhos e a pele mais verde
que os cabelos de Iemanjá.

caçando pirilampos, fogos-fátuos,
uma luz qualquer,
Deus ou fogos de artifício,
a nave-mãe.

seus olhos de holofote,
como um vagalume,
mal surgem e já se apagam,
desmancham feito celulose na água,
um balão na noite escura,
uma flecha.

eu fecho os olhos, faço um pedido,
volto para casa.